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Foto do escritorMaria Clara Rodrigues

O CABELO COMO CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DAS MULHERES NEGRAS

É inegável que o cabelo afeta a construção da identidade da mulher negra e como a aceitação do cabelo natural possibilita uma autoimagem positiva com objetivo de não sentir vergonha das suas raízes, mas passando a vê-las com orgulho.

Foto: Lucas Rodrigues/ADEF

Desde crianças, mulheres negras não se veem nas revistas, nos desenhos, na televisão, o que elas observam em todos os lugares são mulheres brancas e seus cabelos lisos como uma imagem imposta a elas na tentativa de um branqueamento. Os cabelos são alisados e os traços amenizados em uma tentativa latente de serem aceitas e se sentirem bonitas. Hoje, venho mostrar que isso vem mudando dentro das quatro linhas do Futsal Feminino em comparação à Taça Brasil sub 20 de 2012 ,em Guarulhos, e a mais recente neste ano de 2022 que aconteceu em Cascavel. Observando as imagens das equipes de 2012 a maioria das atletas negras estão com seus cabelos domados pela progressiva, relaxamento, gel ou quaisquer produtos que os deixassem o mais liso possível. Caroline da Silva, mais conhecida como Nega, é uma das atletas que aparece nas fotos de 2012, atualmente, ela defende o time das Leoas da Serra de (SC). Desde pequena ela teve dificuldades com o cabelo, sofria bullying na escola pois o cabelo era taxado como “feio” “sujo” “cabelo ruim". Até começar a fazer relaxamento para conter o volume e numa tentativa falha de se sentir melhor. Ela não se identificava com aquela imagem ,se sentia mal com os processos de alisamento e por um motivo hormonal toda química que havia em seu cabelo lhe causou a perda total dos fios. Problema que deu coragem para que ela assumisse o crespo que tanto ama hoje. O cabelo natural não diz respeito somente a estética, quando o assumimos estamos expressando nossa personalidade, força, autoestima, ancestralidade, resistência e representatividade para aquelas que desejam assumir seus cabelos, e têm receio de usá-los soltos ou com muito volume. Olhando as fotos das atletas/comissão dessa última edição da Taça Brasil sub 20 vemos cachos e afros de todos os estilos nas jogadoras como a trança nagô, box braids e o famoso black power que carrega uma vasta história ligado ao movimento negro. A identidade negra se constrói gradativamente e envolve inúmeras variáveis. Está diretamente relacionada à família e, mais a frente, com as outras relações sociais que o indivíduo estabelece ao longo de sua vida. Sua construção implica o olhar de um grupo étnico/racial sobre si mesmos a partir da relação com o outro. Segundo Nilma Lino Gomes (2008):


"Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina aos negros, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar a si mesmo. Um desafio enfrentado pelos negros e pelas negras brasileiros(as). O cabelo pode ajudar a construir a identidade das mulheres negras e as ajuda a se identificar como tal. Afinal, tornar- se negro é um processo. E conseguimos ver essa evolução durante esses dez anos entre as edições. "


Os objetivos de abalizar o racismo institucionalizado no Brasil, problematizar o branqueamento racial, dissertar sobre o mito da democracia racial, refletir sobre o cabelo como ato político, explicitar a construção da identidade negra, exemplificar as várias possibilidades do cabelo crespo, exaltar a beleza negra e mostrar o poder que a mulher negra tem vem sendo feito estamos ocupando mais espaços de poder e responsabilidade. Mesmo evoluindo com a luta antirracista e com tanto material a dispor para a informação, nos deparamos com uma ignorância e tamanho preconceito nos últimos anos. Não podemos regredir, não quero olhar pra traz e perceber que estamos contando a mesma história apenas com personagens diferentes eu prezo pelo respeito e pela paz dentre os meus e os diferentes de mim. Nossa cultura é linda, nosso pele, nosso cabelo. Tenho orgulho da minha cor e dos meus ancestrais. Se você chegou até aqui espero ter feito você refletir de alguma forma.


Quantas pessoas negras têm no seu time? Elas tem poder de fala? Você confronta uma piada preconceituoso do seu amigo/colega? Pensa em políticas de inclusão? Vale a reflexão. Por fim e mais importante quero agradecer a todos que tiveram envolvidos nesse projeto de alguma maneira.


Com vocês e por vocês. ISSO AQUI É ADEF!


Por: Maria Clara Rodrigues


Taça Brasil 2012

Taça Brasil 2022


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